Para especialistas, expansão do metrô de BH poderia ter sido financiada pelo BNDES há décadas

Prestes a começar a operar sob administração privada pela primeira vez, o metrô de Belo Horizonte já poderia ter visto a expansão da atual única linha e a criação de uma segunda, é o que dizem especialistas.

Para que o projeto tivesse saído do papel há algumas décadas, uma possível fonte de recursos sugerida por especialistas ouvidos pelo R7 é o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

“Nós poderíamos ter tido verbas federais antes. Nós poderíamos ter feito a concessão há muito tempo. Por causa de briga política, nós não tivemos essa solução do BNDES há quase 40 anos”, avalia Paulo Resende, coordenador do núcleo de logística da Fundação Dom Cabral.

Resende trabalhou no planejamento do metrô da capital mineira no início dos anos 1980. Ele explica que não havia problemas técnicos para que a expansão ocorresse, uma vez que a construção da linha 2 estava prevista desde o projeto inicial. Para ele, a falta de desenvolvimento nos anos seguintes foi uma questão política.

“Toda gestão, tanto no Brasil quanto em Minas Gerais, criou uma questão política de quem seria o dono do metrô de BH. Igual uma casa em que todo mundo manda e ninguém respeita”, argumentou o especialista

Privatização

Para Ckagnazaroff, o investimento 100% estatal no serviço de trens não é totalmente inviável, mas se mostra "difícil" de acontecer atualmente.

Nesse sentido, a concessão do metrô de BH à iniciativa privada, realizada em dezembro de 2022, na visão do especialista, foi um caminho natural para superar entraves e a falta de modernização do sistema.

"Na comparação entre as iniciativas privada e estatal, a privada tem um perfil mais adequado para esse tipo de investimento. Ela lida de maneira mais apropriada. Não é sobre competência. É sobre marco legal. A máquina pública tem que atender a várias demandas", avalia.

"Do ponto de vista do atraso [do projeto], [o atual] é melhor do que nada. Por outro lado, o poder público tem que ter controle do preço [da tarifa] adequado que deve ser praticado", avalia Ckagnazaroff, da Face.

O Grupo Comporte, que arrematou o metrô de BH por R$ 25,7 milhões, deve assumir a gestão a partir de março deste ano. O contrato terá duração de 30 anos. Os investimentos projetados para o período são de R$ 3,7 bilhões.

O governo federal vai aplicar R$ 2,8 bilhões no projeto, enquanto o Governo de Minas entrará com R$ 400 milhões. O montante será usado para garantir a operação e modernização do sistema no início da concessão.

O contrato de licitação prevê que a empresa deverá revitalizar a linha 1 a partir de 2023, modernizando as 19 estações existentes e criando mais 1, ligando a região de Venda Nova ao Novo Eldorado, em Contagem, na região metropolitana.

A segunda linha, que vai ligar o bairro Calafate, na região oeste, à regional Barreiro, deve começar a ser construída em 2025. As entregas começarão a partir de 2026. O projeto prevê sete estações, em um trecho de 10,5 km.

Paulo Resende calcula que, caso o projeto da linha 2 tivesse sido executado quando foi planejado, ele teria custado 20% do valor previsto atualmente. “O orçamento público não tem o que fazer e a cidade continua crescendo. Ou entrega para a iniciativa privada ou esquece o sonho de ter metrô em BH”, avalia.

A reportagem procurou a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) e o BNDES e aguarda o posicionamento.

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