Campo Grande lidera ranking de fumantes entre capitais e médica alerta para riscos de câncer

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Cigarro | Ilustrativa (Foto: Pixabay)

Olfato e pulsação melhores, respiração mais fácil e risco de morte por  reduzido pela metade. Os benefícios para parar de fumar são inúmeros, mas o processo demora e não impede que 21 milhões de brasileiros ainda não tenham se livrado do hábito.

Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que no  são registradas anualmente 161.853 mortes atribuídas ao tabaco, o que representa 443 óbitos por dia. 

Nesta quarta-feira (31) é celebrado o Dia Mundial Sem Tabaco. A data foi criada há 36 anos, pela OMS, em 1987, para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo.

 

Campo Grande é a capital do país com mais fumantes, de acordo com dados da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico). O levantamento aponta que 14,5% dos campo-grandenses acima de 18 anos são fumantes e que 5,8% são fumantes passivos.

De acordo com dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) de Campo Grande, estima-se que cerca de 1,5 mil mortes ocorreram na Capital em 2022 em decorrência de doenças ligadas ao tabagismo, como doenças cardiovasculares, cânceres, diabetes e doenças respiratórias.

O câncer de pulmão é o mais comum entre os campo-grandenses que possuem hábitos tabagistas.

 

Além do cigarro tradicional, o cigarro eletrônico tem avançado entre a população jovem. O relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) aponta que 20% dos jovens entre 18 a 24 anos fazem uso de cigarro eletrônico. 

Mercado clandestino de cigarros eletrônicos oferece produtos para clientes em Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã/Midiamax)

Conforme explica a médica pneumologista Amanda Almirão Alves, de 33 anos, os dispositivos eletrônicos de fumo como vapers e pods podem ser mais prejudiciais à saúde do que os cigarros comuns. Além da nicotina, há outras substâncias químicas que podem levar a doenças inflamatórias pulmonares e, a longo prazo, ao câncer de pulmão. 

“O cigarro eletrônico pode ser mais nocivo à saúde tendo em vista que, a depender do dispositivo e quantidade de nicotina, a cada 4 a 6 tragadas, a quantidade de nicotina pode ser correspondente a um cigarro comum inteiro”, alerta a médica. 

 

A comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009.

Porém, mesmo com a proibição, é possível comprar facilmente os “pods” e “vapes” em tabacarias ou pelo WhatsApp em Campo Grande, como mostrou uma reportagem do Midiamax, em abril deste ano.

A médica afirma que o combate ao tabagismo enfrenta vários desafios, especialmente sobre a conscientização da população jovem e adulta quanto aos riscos à saúde e a rigorosidade na fiscalização nos locais de venda.

Além dos fumantes, o cigarro oferece risco para as pessoas que vivem como tabagistas passivos como o risco de enfisema pulmonar, agravamento de doença pulmonar prévia e possibilidade de câncer de pulmão. 

A fisioterapeuta e coordenadora do curso do Centro Universitário UniFTC Salvador, Nivea Malafaia, explica que até a fisioterapia pode reduzir os danos na saúde do fumante passivo por meio de exercícios respiratórios, reabilitação pulmonar e orientação sobre hábitos saudáveis.

"Através de técnicas específicas, conseguimos minimizar sintomas respiratórios, promover a reabilitação pulmonar e orientar sobre estratégias para evitar a exposição à fumaça do tabaco e prevenir ou minimizar ocorrência de doenças respiratórias. A fisioterapia desempenha um papel crucial nessa jornada de recuperação e cuidado integral", afirma a profissional

Cigarros eletrônicos
Cigarros eletrônicos apreendidos pela polícia em 2022. (Foto: Divulgação/PCMS)

Já a pneumologista Amanda explica que, no caso dos fumantes, o câncer pode levar anos para se manifestar mesmo após o fim de tabagismo.

“Os malefícios são diversos, em especial para o aumento no risco de doenças cardiovasculares, pulmonares e oncológicas. O câncer não é somente no pulmão, pode ocorrer câncer de boca, língua e via aérea superior, levando a uma péssima qualidade de vida”, ela alerta. 

Como parar de fumar?

O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece tratamento gratuito para quem quer parar de fumar em todos os estados e no Distrito Federal desde 2002. O Inca (Instituto Nacional de Câncer) é o órgão responsável pelo PNCT (Programa Nacional de Controle do Tabagismo). 

O programa traz as diretrizes sobre os critérios para o diagnóstico do tabagismo, o tratamento, o uso de medicamentos e insumos apropriados, o acompanhamento e resultados terapêuticos. Quanto mais cedo parar de fumar, menor é o risco de adoecer.

O tratamento no SUS inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou intensiva, individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa juntamente com a abordagem intensiva.

Unidades de Saúde em Campo Grande oferecem tratamento antitabagismo.

A pneumologista Amanda Alves afirma que o primeiro passo para quem quer parar de fumar é se conscientizar sobre todos os riscos e ter vontade de seguir no processo. Ela orienta que as pessoas procurem orientação e ajuda médica e psicológica.

“Não adianta utilizar medicações via oral e adesivos se o principal ainda não aconteceu: vontade de parar. Existem diversas formas de diminuir o uso do cigarro e conseguir cessar definitivamente”, afirma. 

Confira quais são os benefícios para parar de fumar, de acordo com o Inca:

  • Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal;
  • Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue;
  • Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza;
  • Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor;
  • Após 2 dias, o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida;
  • Após 3 semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora;
  • Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade;
  • Após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.

Como é o tratamento no SUS para quem quer parar de fumar?

De acordo com o Inca, o tratamento no SUS contra o tabagismo é realizado por profissionais de saúde e por uma avaliação individual, passando por consultas individuais ou sessões de grupo de apoio. 

Nos encontros, o fumante recebe informações sobre o papel do cigarro e dos outros produtos derivados de tabaco na vida. Também recebe orientações sobre como deixar de fumar, como resistir à vontade de fumar e como viver sem produtos derivados de tabaco. 

Durante as quatro primeiras reuniões de grupo (ou consultas individuais), são fornecidos manuais de apoio com informações sobre cada uma das sessões. 

Caso seja necessário, o paciente recebe medicamentos gratuitos com o objetivo de reduzir os sintomas da síndrome de abstinência à nicotina.

A orientação é procurar unidades de saúde próximo de casa ou o coordenador do controle de tabagismo do Estado ou do município para se informar sobre os locais e horários de tratamento do tabagismo.

Em Campo Grande, 18 unidades de saúde oferecem o programa que ajuda a se livrar do tabagismo:

  • Clínicas da Família Nova Lima; Portal Caiobá e Iracy Coelho;
  • UBS Caiçara;
  • USFs Albino Coimbra; Ana Maria do Couto, Coophavilla II Batistão, Tiradentes, Moreninha III, Jockey Club, Vila Fernanda, Aero Rancho Granja, Itamaracá, Tarumã, Oliveira, Vila Corumbá e Jardim Presidente.

De acordo com a Sesau, no último quadrimestre do ano passado, quando havia 15 unidades de saúde que ofereciam esse serviço, foram atendidas 158 pessoas. Ainda não há o consolidado dos quatro primeiros meses deste ano.

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